sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Os 10 Maiores Erros da História do Oscar


Por Han Solo

Com o Oscar chegando nós do História em 35 mm decidimos fazer a nossa versão da famosa, e muito debatida, lista dos dez piores erros da história da premiação da Academia. Eu preparei esta lista com os seguintes aspectos:
- Na lista podem constar datas de premiações em si, os premiados tanto quanto os injustiçados.
- Quando eu me referir à premiação de um determinado ano, os filmes citados são os do ano anterior (por exemplo: Oscar de 2000 foi vencido por Beleza Americana de 1999).
- Nesta lista não consta os anos sempre muito citados de 1977 (vencido por Rocky – Um lutador) ou de 1942 (no qual Cidadão Kane é sempre o famosos injustiçado) pelo simples motivo de que numa rápida volta às críticas de Pauline Kael, Roger Ebert e Gene Siskel, três críticos extremamente famosos e conceituados em sua época, Rocky era colocado como um dos melhores filmes do ano (Roger Ebert até o colocou como o seu filme favorito do ano). O filme se conectou com o publico de sua época e Taxi Driver foi o vencedor de Cannes mesmo tendo sido vaiado na competição. O mesmo vale para Cidadão Kane, num ano vencido pelo dramalhão Como Era verde o Meu Vale, que hoje é considerado uma obra que mudou o cinema, mas na época as pessoas não sabiam disso, elas não tinham como ver o futuro e saber que aquele filme iria mudar a linguagem cinematográfica. Em ambos os casos a injustiça é constatada pela importância atual dos filmes e não pela avaliação geral dos filmes da época.


Mas então, vamos lá

10 - Oscar de 2006 – Crash VS Brokeback Mountain
A prova irrefutável de que a academia é preconceituosa, e pior ainda, que tais preconceitos comandam as votações. No ano de 2006 o filme Crash (que possui um ótimo roteiro, vale ressaltar) venceu na categoria de melhor filme quando sem sombra de duvidas o melhor filme era O Segredo de Brokeback Mountain. Mesmo que a academia não quisesse premiar um filme que fala sobre um amor homossexual de um símbolo estadunidense, Crash não era nem de longe o segundo melhor filme do ano, Capote, Boa Noite e Boa Sorte e o filme Munique são infinitamente melhores do que o consagrado vencedor. Note no vídeo em que Jack Nicholson anuncia o prêmio que nem ele mesmo acredita no resultado (min. 1:28).
9 – Oscar de 1953 – A Maior Homenagem da Terra
Cecil B. Demille foi um dos maiores diretores da época de ouro de Hollywood, tendo dirigido épicos clássicos religiosos como Os 10 Testamentos e O Rei dos Reis, e no ano de 1953 seu filme O Maior Espetáculo da Terra venceu o prêmio simplesmente numa forma de homenagear o diretor pelo seu conjunto da obra (sendo assim irônico que o prêmio do Globo de Ouro Cecil B. Demille seja pelo conjunto da obra) quando o clássico Cantando na Chuva não foi nem indicado a melhor filme. Sim, o filme que todos nós conhecemos pela famosa cena que lhe intitula e que possui um roteiro metalinguístico excepcional ficou de fora da premiação nesse ano. É triste que um filme tão bom tenha sido ignorado e que um diretor tão talentoso tenha um Oscar por um filme tão fraco.


8 – Oscar de 2001 – Mulheres de talento
Julia Roberts venceu seu prêmio de melhor atriz pelo filme Erin Brockovich num ano que quem claramente era Ellen Burstyn quem merecia o Oscar pelo filme Réquiem Para Um Sonho. Nesse ano ocorreu algo muito comum, um artista vence um prêmio, pois a academia está a muito tempo querendo premia-lo. Além disso, Burstyn já tinha um Oscar pelo filme Alice Não Mora Mais Aqui, de 1975, ou seja, considerada já agraciada com uma estatueta.



7 – Oscar de 1957 – Vergonha de 60 anos
Até hoje a Academia raramente faz qualquer referência a este ano da premiação que é vergonhoso pela vitória do filme A Volta ao Mundo em 80 Dias. A história de Julio Verne possui duas versões fraquíssimas para o cinema, e por mais que a versão de 1956 seja melhor que a de 2004 aquela é com certeza um dos piores filmes a já ganhar um Oscar. Tudo fica ainda mais ridículo ao ver que quem concorria naquele ano era o ultimo filme de James Dean, Assim Caminha a Humanidade, um filme sensacional que, esse sim, é citado e referenciado até hoje.



6 – Charles Chaplin
Um caso curioso, pois Chaplin tinha tanto sucesso de crítica quanto de publico. O cineasta possui uma obra atemporal recheado de críticas sociais, estudos de personagens e incrivelmente engraçada. Talvez seja esse o maior problema de Chaplin, ele cutucou exatamente onde a sociedade estadunidense sentia dor, assim, o cineasta acabou por ser perseguido e condenado após seu eterno clássico O Grande Ditador e acabou se exilando dos Estados Unidos. Mais tarde a academia tentou seu famoso “Mea Culpa” ao lhe dar um Oscar pelo conjunto da obra para um Charles Chaplin idoso e que morreu de medo de ser insultado ou repudiado no palco na noite do prêmio, tamanho o ódio que lhe foi direcionado ao longo dos anos. A injustiça de Chaplin tem centro no Oscar, mas se estende dentro dos mais diversos âmbitos do cinema pela forma com que este brilhante artista foi tratado. Tudo o que Chaplin tocou foi revolucionário e seu reconhecimento veio tarde.




5 – Stanley Kubrick
Kubrick é Deus! Ponto, não há o que argumentar. A frase mais clichê usada pelos cineastas em relação a Kubrick, e também a mais verdadeira, é a de que “um de seus filmes equivalem a três de qualquer outro diretor”. Assim, chega a ser um insulto que ele só possua um Oscar de melhores efeitos especiais por 2001: Uma Odisséia no Espaço. Tudo bem, seus filmes não são palatáveis para o publico geral e pouco comerciais, mas a injustiça ainda incomoda muito, principalmente em dois anos em especifico: 1969 e 1972, vencidos por Oliver! e Operação França, respectivamente, quando o diretor havia lançado  2001 e Laranja Mecânica. Operação França é divertido e foi um sucesso de bilheteria (o que eu até entendo pese na premiação) mas Oliver! é um filme esquecível. Um diretor como o Kubrick não ter um Oscar de direção é ridículo.







 4 – Martin Scorsese
Martin Scorsese não foi só injustiçado no Oscar, foi praticamente ridicularizado (Calma Han Solo respira... você disse que não ia falar de Taxi Driver... Respira...). Se perder o Oscar de 1991 com seu filme sensacional Os Bons Companheiros para o dramático Dança com Lobos já é "estranho", foi absurdo a sua derrota de melhor diretor e melhor filme para o dramalhão familiar de Robert Redford, Gente Como Agente, com aquele que é considerado como o melhor filme da década de 80, Touro Indomável. Redford era o queridinho de Hollywood e venceu com seu trabalho de estréia enquanto Scorsese tava na estrada há bastante tempo e merecia muito o prêmio. Por mais que eu goste de Os Infiltrados, chega ser ridículo que este seja o filme que deu o Oscar para Scorsese quando ele é a mente por trás destas obras já citadas além de O Rei da Comédia, A Ultima Tentação de Cristo, The Last Waltz e Cassino.





3 – Alfred Hitchcock
Em 1941 o filme re Alfred Hitchcock, Rebecca, ganhava o Oscar de melhor filme, um belo momento para prestigiar o diretor com um prêmio... Mas não. Hitchcock foi ignorado com sua direção perfeita não só nesse filme, que é até de certa forma “desconhecido”, mas também pelo seu trabalho em Psicose, Janela Indiscreta, Os Pássaros, Um Corpo que Cai e Festim Diabólico, todos estes citados como os mais influentes na técnica de diretores que surgiram posteriormente (basta ver Birdman que tem influência clara de Festim Diabólico). O curioso é que Hitchcock fazia filmes de grande sucesso comercial, mas em questões de crítica era um homem a frente de seu tempo. Só mais tarde com a Nouvelle Vague redescobrindo seus filmes é que o mestre do suspense ganhou notoriedade na história do cinema, infelizmente muito tarde.



2 – Oscar de 1980 – Kramer Vs Apocalypse
Apocalypse Now é continuamente citado como não só um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos como também um dos melhores filmes de todos os tempos. Francis Ford Coppola enlouqueceu enquanto gravava nas Filipinas e acabou por dizer que seu filme não era sobre o Vietnã, mas sim era o próprio Vietnã, tamanha a loucura que foi fazer o filme. Sua direção é estilizada, marcante, seu filme possui um roteiro magnificamente adaptado de um romance que não tem a ver com a guerra do Vietnã... e Apocalypse Now saiu da competição derrotado pelo filme Kramer Vs Kramer. Um drama que só não é esquecível graças a Dustin Hoffman e Meryl Streep (sim, exatamente, Streep e Hoffman no mesmo filme num duelo de atuações) que fazem um trabalho de atuação espetacular, porém o filme é a cara dos telefilmes da década de 70 e 80 feitos nos Estados Unidos. A questão é que por mais que contenha duas grandes atuações estamos falando de um telefilme, enquanto o filme de Coppola é cinema puro de mais alta qualidade. Muitos dizem que o motivo do filme da familiar Kramer vencer diz respeito ao fato de Coppola já ter um Oscar de melhor diretor e dois de melhor filme (Poderoso Chefão Parte 1 e 2 pra melhor filme e somente o parte 2 para diretor)além do fato de a Academia já ter premiado um filme sobre Vietnã um ano antes com o filme O Franco Atirador. Por reunir todos os problemas já citados nos outros números (preconceito, vontade de premiar um artista que não possui um prêmio, ignorar um talento em seu tempo, ir por questão de popularidade...) o Oscar de 1980 merece esta colocação vergonhosa.



1 – Oscar de 1999 – WTF?
O Oscar de 1999 foi uma bagunça. Nada estava certo. Até hoje é (quase) inexplicável como que os resultados da premiação tenham sido tão... tão... ridículos! Em 1999 Shakespeare Apaixonado venceu O Resgate do Soldado Ryan como melhor filme, Judi Dench venceu como melhor atriz coadjuvante tendo a interpretação mais curta da história a vencer um prêmio, ROBERTO BENIGNI venceu como melhor ator, Gwyneth Paltrow venceu o Oscar de melhor atriz, A Vida É Bela venceu como melhor filme de língua estrangeira e o apresentador Chris Rock chamou o homenageado da noite, Elia Kazan, de rato... Vamos por partes que meu coração não aguenta tanta lambança...

Shakespeare Apaixonado é um filme com um ótimo roteiro e o fato de ele vencer o poderoso filme de Spielberg é até explicável visto que a Academia não costuma premiar muito filmes que possuam uma carga grande de violência. Mas com toda a certeza não era o melhor filme do ano. Quanto às atuações principais, é inaceitável que Roberto Benigni tenha vencido o prêmio de melhor ator com aquela atuação ridícula, todos os outros quatro indicados mereciam bem mais o prêmio (e eu estou falando de Tom Hanks, Edward Norton, Nick Nolte e Ian Mckellen), mas os maiores injustiçados foram Jim Carrey, que nem foi indicado pela sua famosa atuação em O Show de Truman, e Edward Norton em A Outra História Americana. E ver o Oscar de melhor filme estrangeiro escapar das mãos brasileiras para o filme italiano é muito triste devido a diferença de qualidade entre o filme de Benigni e Central do Brasil.







Assim, chega a ser ridículo que a Gwyneth Paltrow tenha vencido o prêmio quando ela concorria com Cate Blanchett, Fernanda Montenegro e Meryl Streep. Fernanda Montenegro merecia aquele prêmio, mas como a academia é preconceituosa seria aceitável que este fosse para Blanchett, mas não, eles tinham que dar o Oscar para Paltrow. Tal prêmio ganha contornos maiores quando se vê o Oscar de Judi Dench que o recebeu após atuar durante OITO MINUTOS. 




O mestre por trás de tais prêmios é Harvey Weinstein, o homem que tem mais agradecimentos em prêmios do que Deus. Ele foi o produtor de Shakespeare Apaixonado e faturou estes prêmios, foi produtor de O Discurso do Rei e o filme venceu nas categorias principais, foi o produtor de O Lado Bom da Vida (um filme com muitos defeitos, mas que eu gosto bastante) e faturou o prêmio de melhor atriz para Jennifer Lawrence no lugar da lenda viva do cinema francês, não sei por mais quanto tempo, Emmanuelle Riva. Este é um comentário final para que se perceba que o Oscar não mede qualidade de muitas produções, é um prêmio que gira em torno de muita propaganda, positiva ou negativa, dos filmes que concorrem. 

4 comentários:

  1. WTF é certamente a melhor definição para o Oscar de 1999. Felizmente eu era muito nova para ter tido esse desgosto na época. Outra injustiça, ao menos eu a considero como tal, foi o Oscar de melhor canção original de 2012 ter ido para "Man or Muppet" que concorria com "Real in Rio". Era previsível esta escolha, pois como você mesmo disse: a academia é preconceituosa; mas não torna menos injusta a premiação. Belo texto Han!

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    1. É realmente injusto, porém "compreensível" já que os Muppets são um símbolo nacional para os Estadunidenses seria difícil eles deixarem esse prêmio escapar para qualquer outro país. Não que a música seja ruim, o que não é, pois ela apresenta uma justificativa dramática no filme, serve ao "drama" principal, além de ser meio "grudenta" hahaha, mas realmente "Real in Rio" merecia. Muito obrigado por nos acompanhar!

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  2. Podemos colocar também aqui a ridícula vitória de O Discurso do Rei sobre a Rede Social no Oscar de 2011. Tudo bem, o Discurso do Rei tem aquela faceta exata dos filmes que costumam levar o prêmio, mas não passa de um bom filme carregado pela incrível atuação de Colin Firth. Porém, A Rede Social tem um dos roteiros mais perfeitos já escritos e ainda a direção do impecável David Fincher, que acabou perdendo o Oscar de diretor para o mediano Tom Hooper. Inacreditável

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    1. O mago Weinstein dando as caras de novo, temos que ficar de olho pois esse ano ele ta cuidando da promoção do O Jogo da Imitação e já detonou o filme Selma pro Oscar já nas indicações. Imagina uma segunda rodada de O Discurso do rei... Birdman, Boyhood e Whiplash sendo A Rede Social, O Vencedor e Cisne Negro deste ano... Não parece nada agradável ou justo.

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