segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Crítica: "Perfeita é a Mãe!"

Perfeita é a Mãe!
(Bad Moms)
Comédia
Data de Estreia no Brasil:  11/08/2016
Direção: Jon Lucas e Scott Moore
Distribuição: Diamond Films


Em um determinado momento de "Perfeita É a Mãe" (uma transição horrível do título original "Bad Moms") percebi que, por mais que o filme estivesse arrancando boas risadas de mim e que até então não tivesse representado problemas de conservadorismo e machismo evidentes em sua narrativa, eu estava receoso a cada minuto esperando o momento no qual o filme se quebraria com um discurso sexista. Tal receio não é infundado, visto que Hollywood tende a fazer exatamente este caminho de apresentar boas ideias que vão se destilando em conceitos conservadores - E basta assistir "A Mentira", por exemplo,  para ver um filme que se propõe a discutir o "slut shaming", mas que aqui e ali se entrega a conceitos antiliberais.
Assim, foi com grande felicidade que ao final da projeção eu percebi que "Bad Moms" não só é um filme extremamente divertido, como também representa um grande expoente de girl power sobre mulheres que possuem o argumento simples, mas muito esquecido pela nossa sociedade patriarcal: por mais que mulheres se tornem mães, estas continuam sendo seres-humanos com necessidades, gostos e desejos. Sem que isso represente de forma alguma uma diminuição do amor destas por seus filhos. Para conseguir tal feito, o filme aposta numa narrativa construída por "tipos" de personagens já característicos, mas com um grupo de atrizes com muita química e talento, já que Mila Kunis, Kristen Bell e Kathryn Hahn constroem com energia suas personagens (Kiki, Amy e Carla, respectivamente), cada uma com seus momentos, cada uma com suas facetas bem estabelecidas.
Se Kristen Bell representa uma componente mais fraco em questão de comicidade em relação a suas companheiras (com o filme apostando em gags fracas da atriz caindo no chão), ao menos a personagem possui um arco dramático interessante, com a personagem se impondo frente à seu marido, que joga todas as necessidades caseiras e de seus filhos em suas costas, representando um componente de libertação de uma mulher que quer continuar casada, mas sem se ver subjugada por seu cônjuge. Neste aspecto, é de extrema importância o estabelecimento da personalidade sexualmente libertária da Carla de Kathryn Hahn, já que esta além de se mostrar como o grande ponto cômico do filme apresenta a faceta de uma mãe mais desleixada com seu filho (algo importante para o arco da personagem que passa a se importar mais com a educação e alimentação do garoto), apontando ainda pra uma liberdade sexual da personagem que se mostra feliz solteira.
O que nos leva à Amy de Mila Kunis. Compondo a personagem com a dose certa de certa neurose e controle do cotidiano com uma leveza que não destoa do resto do filme, representando ainda a media perfeita entre suas amigas Kiki e Carla já que trás da primeira a maior preocupação com a família (inclusive chamando seu marido de "terceiro filho") e a busca de uma vida sexual ativa agora que está em processo de divórcio. O chamado "despertar" desta personagem será encarado pelos machistas de plantão como um descuido desta perante sua família, quando a grande maioria aprovaria as novas tendências mais individualistas da personagem caso esta fosse um homem - pensem em Beleza Americana, por exemplo.
Ao fazer este balanço destas personagens é fácil perceber como cada uma vive um tipo (a mais travada e neurótica, a de tiradas rápidas com falas relacionadas a sexo e a personagem principal que apresenta maior ponderação), que em função da proposta do filme é extremamente funcional. O filme acaba revelando uma estrutura convencional e fácil de prever, mas isto não danifica muito a narrativa, já que é sempre um prazer observar a releitura de "budy movie" feminino que a película apresenta. Ainda assim, é mesmo uma frustração que as "vilãs" do filme representam um ponto dispensável da narrativa (mesmo que interpretadas pelas ótimas Christina Applegate, Jada Pinkett Smith e e Annie Mumolo), com contornos de maldade que estrapolam o clichê e o nível do aceitável em um determinado ponto.
Relegando ao elenco masculino somente pontas que serão utilizadas para desenvolver as personagens principais - numa ironia extremamente divertida - "Bad Moms" constrói todas as suas protagonistas a partir de características diferentes, mas que comungam num ponto: o amor por seus filhos. Um elemento extremamente importante para que possamos rir com a leveza deste filme, nos importarmos com os indivíduos que o povoam e ainda estabelecer um discurso interessante e tocante sobre o amor materno na perspectiva das próprias progenitoras. O arco da protagonista encaixa não só na proposta do filme como com os créditos finais, nos quais somos apresentados a uma série de entrevistas do elenco com suas próprias mães, fazendo com que o espectador saia sorrindo descompromissadamente da sala de cinema.








Ótimo

Por Han Solo

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