quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Crítica: "Star Trek: Sem Fronteiras"

Star Trek: Sem Fronteiras
(Star Trek Beyond)
Data de Estreia no Brasil: 01/09/2016
Direção: Justin Lin
Distribuição: Paramount Pictures


          Há 7 anos atrás J. J. Abrams fez o que parecia impossível: dirigiu um excelente reboot de uma das mais antigas e amadas franquias de ficção-científica e da cultura pop em geral. "Star Trek" (2009) conseguiu a façanha de ser um grande sucesso de crítica, agradando o exigente grupo dos trekkies, bem como conquistando um novo público (eu, por exemplo) para a franquia. O filme não foi, entretanto, um estrondoso sucesso de bilheteria, marca também não atingida pela sequência de 2013. Com a saída de J. J. Ambras da cadeira de diretor, a Paramount tomou a decisão de trazer para a continuação o diretor de um estrondoso sucesso de bilheteria "Velozes & Furiosos 6" (2013). O primeiro trailer preocupou muito os fãs por tentar buscar atingir um público mais amplo destacando o nome de seu novo diretor e dando a impressão de ser apenas mais um filme de ação genérico, com a única distinção de carregar a insígnia da Federação.

             Me incluo entre os fãs preocupados. Portanto, é com grande alívio que digo: "Star Trek: Sem Fronteiras" é exatamente o oposto de tudo isso. Com um roteiro escrito por Doug Jung (que faz um cameo como o companheiro de Sulu) e Simon Pegg (presença cativa em todos os eventos nerds que a humanidade conhece), "Sem Fronteiras" captura de maneira impecável a essência de Star Trek, me deixando com uma vontade enorme de assistir a série clássica novamente. O filme aposta na afinação entre seus ótimos atores e personagens para criar uma dinâmica incrível entre seus protagonistas, que ao mesmo tempo remete diretamente aos tripulantes originais da Enterprise dos anos 1960 e cria algo inteiramente novo.
           Um enorme acerto de "Sem Fronteiras" é começar sua história de maneira direta, jogando o público no meio da ação dos tripulantes da Enterprise em sua missão de 5 anos, para ir bravamente onde ninguém jamais foi (perdoem a nerdice, mas não me contenho). O filme começa direto em uma missão diplomática de Kirk, algo extremamente comum em vários episódios da série criada por Gene Roddenbery. O filme ainda consegue ir além, criando uma profundidade psicológica muito interessante para Jim Kirk, que se vê questionando sua missão no espaço, questionando sua própria existência perante a vastidão do que ele e sua tripulação tentam explorar. O tema é muito pertinente e cria um realismo e uma proximidade muito grande para os personagens que retrata: o que somos nós, humanos, diante da infinitude e eternidade do espaço? Isso é Star Trek no seu mais puro estado.
           Para os fãs, "Star Trek: Sem Fronteiras" é um deleite de referências e homenagens. Um dos maiores destaques é sem dúvida alguma a "troca de farpas" entre Spock e "Bones", que já havia aparecido brevemente nos filmes mais recentes, mas chega com força total neste. Os desentendimentos entre o frio Spock e o mal-humorado McCoy rendem momentos extremamente cômicos e divertidos. Simon Pegg atinge novamente a perfeição com seu Scotty, bem-humorado e metido a MacGyver, o personagem consegue ser um ótimo alívio cômico e ainda assim ter enorme peso e importância sobre a trama. Outro grande acerto é Sulu: a cena em que aparece com seu companheiro e sua filha é bonita e rápida, tão natural como seria se mostrasse algum outro personagem em uma relação heterosexual. Perfeito. Outro grande acerto de "Sem Fronteiras" é a abordagem da morte do Spock de Leonard Nimnoy em seu universo fictício, que fucniona muito bem como uma homenagem ao grande ícone da vida real (vida longa e próspera, mr. Spock).
          Há também a introdução de novos personagens e novos elementos a essa nova franquia. Boa parte da trama envolve o posto espacial de Yorktown, visualmente muito bem construído com computação gráfica, conseguindo dar um senso de maior realidade e materialidade à Federação. Jaylah, que havia ganhado muito destaques nos trailers e posteres, é uma interessante adição à galeria de personagens da franquia, com uma boa atuação de Sofia Boutella (ótima também em "Kingsman") que cria uma personagem muito verossímil, sem parecer uma mera muleta de roteiro que auxilia os membros da Enterprise em um território desconhecido. Me agrada muito também a utilização de um novo planeta desconhecido, que remete muito bem aos cenários de rochas da série antiga (que eram  praticamente todos iguais), ao mesmo tempo que os faz parecer mais realistas.
            Infelizmente, porém, nem tudo são flores. "Star Trek: Sem Fronteiras" escorrega feio em relação à sua ameaça principal. A caracterização de Krall e de sua tripulação até começa bem, com Kirk praticamente "esbarrando" neles em suas jornadas. No entanto, a cada vez que o roteiro tenta desenvolver estes personagens o faz de maneira muito pobre e artificial, criando em Krall um vilão extremamente genérico, que só tem um pingo de qualidade por conta da excelente atuação vocálica de Idris Elba. Passamos a maior parte do filme com informações absurdamente vagas sobre o vilão e quando descobrimos mais sobre seu histórico no final já é tarde demais para que nos importemos minimamente. Me incomoda muito também a necessidade de criar uma ameaça maior para o vilão, ao invés de algo mais contido e somente em relação à Enterprise e seus tripulantes, o que seria muito mais interessante e diferente em comparação a maioria dos blockbusters atuais.
        Entretanto, os "capangas" de Krall e suas naves servem bem para construir boas cenas de ação, principalmente envolvendo a Enterprise, o que dá origem às melhores sequências do filme. Justin Lin é um diretor muito talentoso, conseguindo imprimir aqui um ritmo muito rápido e "aventuresco", sem no entanto dispensar os momentos mais sérios, que permeiam todo o filme e aparecem de maneira pertinente. A fotografia e design de produção me agradam muito também, com cenas extremamente coloridas que conferem ao filme um estilo visual que combina muito bem com seu roteiro. Como já disse anteriormente, os efeitos digitais são muito bem empregados no filme em relação à objetos, como por exemplo Yorktown e todos os veículos espaciais retratados. Por outro lado, o CGI erra de forma bizarra quando há algum ser humano envolvido na cena. Há duas cenas em específico, uma com Scotty se pendurando em um penhasco e Kirk numa motocicleta (ambas presentes no trailer) que são absolutamente risíveis e te fazem se lembrar de que está assistindo um filme, retirando o efeito de imersão das cenas.
             Há também algumas cenas de diálogo que me incomodaram um pouco, como se estivessem se esforçando mais do que deveriam para terem peso dramático, o que acaba fazendo-as soar um pouco artificiais. Porém, felizmente contrariando todas as expectativas, os defeitos de "Star Trek: Sem Fronteiras" não são suficientes para tirar os méritos de um filme que teve a coragem de ser o que "Esquadrão Suicida" deveria ter sido: um filme extremamente engraçado e divertido, que não tem medo de ser colorido e nerd. Os produtores encontraram um caminho perfeito para esta nova franquia, algo ao mesmo tempo fresco e que sabe sua origem e a reverencia. Algo divertido e "aventuresco", mas que sabe tocar em assuntos sérios e socialmente relevantes. Tenho certeza que Anton Yelchin, Gene Roddenberry e Leonard Nimnoy estariam orgulhosos e satisfeitos. Eu estou. Vida Longa e Próspera.







Ótimo

Por Obi-Wan

Nenhum comentário:

Postar um comentário