sábado, 3 de setembro de 2016

Crítica: "O Sono da Morte"

O Sono da Morte
(Before I Wake)
Drama/Terror/Suspense
Data de Estreia no Brasil: 01/07/2016
Direção: Mike Flanagan
Distribuição: Playarte Filmes



Dentro de "O Sono da Morte" há um drama psicológico com um forte poder de suspense e que demonstra leves traços de um brilhante filme. Porém, dentro do mesmo longa há um filme de terror que, com uma premissa interessante e com potencial de inventividade, acaba apostando em rostos distorcidos com buracos no lugar dos olhos que são tão clichês quanto o habito dos mesmos de assustar os personagens ao surgir atrás destes com gritos ensurdecedores. Ou seja, se por um lado há sim um clima de tensão construído de maneira eficiente pelo argumento e por uma ambientação predominantemente noturna, por outro o longa falha justamente no gênero no qual este se vende - e, levando em consideração que o público alvo são os fãs de filmes de terror, isto demonstra a fragilidade da produção.
Escrito e dirigido pelo irregular Mike Flanagan (responsável por "O Espelho" e "Hush"), o longa conta a história do casal Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane) que, após terem perdido seu filho num acidente doméstico, adotam o pequeno e adorável Cody (o pequeno e adorável Jacob Tremblay). Eis que os adultos descobrem um dom extraordinário do garoto que, quando vai dormir, todos os seus sonhos e pesadelos são projetados no mundo, algo que abre espaço para criações de pura beleza - como borboletas coloridas e decorações natalinas - como também o terrível "Homem Cancro" que atormenta a criança. 
O filme conta assim com um bom drama desenvolvido com coerência dentro dos poderes e ameças que cercam o jovem Cody, mas sem uma construção que saiba dosar bem tais elementos. O real problema da projeção acaba mesmo sendo o desperdício de diversas boas ideias em execuções que soam as vezes forçadas ou completamente convenientes para a trama, algo que fica claro em pelo menos dois momentos do longa: o primeiro se refere a quando o subconsciente de Cody reflete a forma exata como o primeiro filho de seus pais adotivos morreu, algo impossível devido a falta de informações do garoto quanto a situação ; o outro, e ainda mais problemático, diz respeito as revelações colocadas ao final da narrativa que, além de soarem como mera explicação de trama para o espectador (quase uma narração em off), demonstram uma conveniência tremenda da forma com que são adquiridas, contando novamente com fatos que a personagem envolvida nas revelações não teria como saber em tantos detalhes.
Aliás, esse não é o único problema com o final do filme que soa completamente anti-climático com os 5 minutos finais sendo adicionados de forma abrupta, quando qualquer um na sala de cinema já está esperando que rolem os créditos. Não que há algum problema na existência de tais revelações em si, mas a forma com que são orquestradas parece apontar para uma adição de ultima hora de um montador indeciso (um mal sinal considerando que Flanagan também assina a edição e montagem). Ainda assim, em relação ao argumento e profundidade nos dramas de seus personagens deve-se atentar para a complexa dramatização de determinadas atitudes dos personagens que os tornam mais humanos para o espectador.
No centro de tal perspectiva está Jessie, uma mulher completamente atormentada pela perda do filho, tendo problemas claros de depressão e insonia. A atuação Bosworth encontra-se na medida exata para passar toda a dubiedade das ações de Jessie: se por um lado o espectador irá questionar a ética e o caráter de determinadas atitudes da moça, por outro nunca duvida-se do real carinho e cuidado que esta desempenha na vida de Cody. Esse lado afetivo é também encontrado na performance completamente canastrona (porém funcional) de Thomas Jane, já que o ator consegue trazer o balanço de um reflexo de culpa pela morte do filho, ao passo que parece mais empenhado em tentar deixar o passado para trás e cuidar de maneira realmente carinhosa do garoto que adotou - mas acredito que se fosse interpretado por um ator mais talentoso a motivação de culpa para gerar tais  afetos seria mais bem empregado e, assim, complexificado.
O que nos leva a Jacob Tremblay, o fantástico ator que à pouco tempo atrás já havia nos surpreendido com sua performance fantástica em "O Quarto de Jack", e aqui o jovem talento não desaponta ao fazer com que o espectador crie empatia pelo personagem, temendo por seu futuro, transparecendo um espirito infantil de carência e medo palpáveis. É óbvio que esta não é uma atuação ao nível do seu ultimo longa (na verdade "O Sono da Morte" foi gravado antes deste, algo que demonstra o crescimento de Tremblay como ator também), porém basta ver a cena com que o garoto tira os sapatos ao entrar na nova casa afirmando que estes "Sujam a casa!" para percebermos o tom completamente descompromissado com que o ator diz sua fala, algo que ressalta para nós como esta regra foi importante no ultimo lar de Cody. São esses detalhes que me fazem acreditar que "O Sono da Morte" poderia ter sido um grande filme, com um pouco mais de segurança sobre que caminhos queria seguir - balanceando melhor o drama com o terror - este longa certamente seria um dos melhores do ano.






Bom

Por Han Solo

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