quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Crítica: "O Contador"

O Contador
(The Accountant)
Ação
Data de Estreia no Brasil: 20/10/2016
Direção: Gavin O'Connor
Distribuição: Warner Bros.


“O Contador” é uma bobagem divertida e funcional, mas ainda assim uma bobagem. Traçando caminhos narrativos irritantes que apostam em informações dadas de forma expositiva e reviravoltas implausíveis, este novo longa dirigido por Gavin O’Connor enaltece suas qualidades quando não se leva a sério, mas se auto sabota por completo em seu terceiro ato com revelações que quando não são óbvias soam irritantemente absurdas – e falo isto de um filme que em boa parte de sua duração aposta no mesmo absurdo só que de uma forma descompromissada que se torna divertida, o que nos deixa a ligeira impressão de um potencial desperdiçado.

Este absurdo é facilmente detectável em sua premissa simples, já que acompanhamos a estória de Christian Wolff (Bem Affleck), um contador autista extremamente competente em lavar dinheiro para a máfia e que está sendo investigado pela secretaria do tesouro dos EUA... Ah, e um detalhe: Wolff é hábil em artes marciais (treinado pelo próprio pai militar e um mestre asiático – sim! - desde pequeno), possui uma mira excepcional e não sente dor ao receber golpes de seus adversários, o que me leva a pensar que a combinação autista + treinamento militar só pode gerar o mais próximo do Super Homem (Übermensch) que o ser humano já viu... Mas divago, o fato é que é justamente de tal premissa implausível e divertida que o filme gera seus melhores momentos já que a narrativa é conduzida como um filme de ação eficiente com leves tons que apontam para um (raso) estudo de personagem.
Algo que contribui imensamente para tal perspectiva é a escalação de Ben Affleck como protagonista da narrativa, já que sua composição física é imponente (estamos falando do atual Batman, afinal de contas) e em suas cenas de ação o ator se entrega com energia e vigor. Além disso, até mesmo a inexpressividade de Affleck no papel depõe a favor do personagem, ainda que seja uma escolha fácil e simplista para interpretar um autista. Ainda assim, o pequeno tique do personagem de soprar os dedos antes de exercer alguma tarefa (algo que acredito ser uma direção já apontada pelo roteiro) é artificial em sua tentativa de dar uma característica física para sua condição neuro-atípica.
Mas Affleck não está sozinho em sua atuação competente. Na verdade, todos os atores envolvidos no projeto conseguem compor seus papeis com segurança e completa tranqüilidade, já que na verdade se tratam de typecasting. Assim, Anna Kendrick se encaixa perfeitamente no tipo divertido e inteligente de Dana, assim como a virilidade e experiência de Brax é ressaltada com facilidade por Jon Bernthal. Do mesmo modo, quando é necessário um ar de experiência, inteligência e o tom certo de confiança de J. K. Simmons para compor seu Ray King, o ator consegue se estabelecer com carisma em cada cena, sendo a figura de autoridade perfeita para a persona insegura e determinada da oficial Medina (Cynthia Addai-Robinson), a única personagem no filme inteiro que aparenta algum sinal de um arco dramático detectável.
O que nos leva ao maior problema estrutural narrativo de “O Contador”, que é justamente toda a inclusão da subtrama envolvendo a secretaria do governo no filme sendo que esta poderia ser completamente removida da estória sem qualquer problema... Na verdade um único problema: os roteiristas teriam de se virar para criar maneiras menos expositivas para explicar diversos pontos “importantes” da trama – o que transforma a performance segura de Simmons e o arco dramático de Medina em um desperdício, já que estão presos a um segmento desnecessário. Tal problema de roteiro torna-se ainda pior visto que a intrusão de tal subtrama prejudica ainda mais a montagem trôpega e redundante do longa, o que impede sempre que o filme engate de vez já que possui um ritmo quebrado, principalmente em seu primeiro e terceiro ato.
Ainda assim, a maior falha do longa reside justamente em suas revelações finais que variam da bobagem inofensiva para o absurdo insultante, algo ainda mais problemático quando os roteiristas tentam amarrar todas as pontas soltas do filme de maneira risível, o que alterará significativamente sua perspectiva sobre a trama... Mas para pior! A narrativa inchada não é nem mesmo salva pela direção segura de O’Connor, que mesmo empregando um ritmo ágil e eficiente em suas sequencias de ação acaba sendo sabotado pela paleta escura de algumas cenas à noite, que acabam obscurecendo o potencial de entretenimento do longa - e a sequencia envolvendo um cinto e uma faca é um bom exemplo do potencial desperdiçado pelo filme.
“O Contador” é assim: até mesmo quando acerta, parece estar fazendo um esforço incrível para errar, o que é ainda pior sendo que seus acertos nem são lá impressionantes.





Por Han Solo
Regular

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