domingo, 6 de novembro de 2016

Crítica: "Doutor Estranho"

Doutor Estranho
(Doctor Strange)
Data de Estreia no Brasil: 03/11/2016
Direção: Scott Derrickson
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures


         Com um universo firmemente estabelecido no cinema, a Marvel Studios se permite ousar mais a cada ano. Após o estabelecimento de seu time principal de super-heróis e dos Vingadores, o estúdio passou a explorar personagens menos conhecidos do público geral, enveredando para diferentes sub-gêneros. O estrondoso sucesso de "Guardiões da Galáxia" (2014) foi a prova de que qualquer coisa que a Marvel lance hoje será minimamente bem sucedida. Dessa forma, a Marvel hoje em dia é capaz de pegar um personagem muito pouco conhecido do público, como Stephen Strange e transforar um filme solo de tal herói em uma aposta pouco arriscada. Contando com o rosto conhecido e adorado de Benedict Cumberbatch e um excelente material promocional, a Marvel Studios foi capaz de transformar "Doutor Estranho" em mais um enorme sucesso de bilheteria e crítica.

           "Doutor Estranho" é a história de origem do homônimo super-herói da Marvel dos anos 1960, um arrogante neurocirurgião que perde parcialmente o movimento das mãos em um acidente de carro e vai ao Tibet em busca de uma cura para sua deficiência. Muito semelhante à Tony Stark em suas primeiras edições (até a imaginação de Stan Lee tem seus limites) Stephen Strange foi gradualmente ganhando uma personalidade e um estilo gráfico mais próprios, tornando-se no fim dos anos 60 e começo da década de 70 um dos principais personagens dos Vingadores. Um dos principais acertos deste  filme está na maneira impecável que captura a essência psicodélica e mística de Strange. "Doutor Estranho" é um filme que não tem medo algum de abraçar a essência colorida e "brega" dos heróis dos anos 1960, criando um visual repleto de cores vibrantes e incríveis composições visuais, extremamente memoráveis e envolventes.
         Desde a escalação de Scott Derrickson, conhecido em Hollywood por filmes de horror, sabíamos que "Doutor Estranho" seria um ponto muito particular dentro da linha de filmes recentes da Marvel. O diretor faz um trabalho muito competente na condução do filme, auxiliado por um incrível design de produção, figurino, cinematografia e efeitos especiais, que conseguem pegar os elementos mais particulares do personagem e transformá-los em algo muito verossímil. Obviamente utilizo a palavra "verossímil" não no sentido de que os elementos do filme respeitam as leis da física, mas que são capazes de criar para si um universo extremamente coeso e crível, bastando algumas cenas envolvendo a Anciã e o vilão Kaecilius para nos convencer de que todo o se aspecto mágico possivelmente exista em um universo paralelo. Acreditemos rapidamente em tudo aquilo que vemos em tela e este é um grande mérito do filme.
           Falando em Anciã, Tilda Swinton é absolutamente fenomenal no papel. Houve uma considerável polêmica envolvendo a escalação da atriz, pois tal personagem é asiático nos quadrinhos e a escolha de uma atriz branca foi considerada um "whitewashing". Porém, acredito que a escalação de uma mulher para um personagem que se encaixa no arquétipo velho sábio, e que é em 99% dos filmes um homem, de certa forma equilibre as coisas. O estilo de atuação único e chamativo de Swinton é perfeito para a personagem, envolvendo-a em uma aura de mistério e sabedoria que cumpre de maneira absolutamente eficaz a função de inserir o público naquele mundo: Swinton é a guia perfeita para tal objetivo. Já Cumberbatch está absolutamente fenomenal como Stephen Strange. Sua atuação é daquelas que nos fazem esquecer em questão de segundos que estamos vendo alguém interpretar um papel. O ator britânico junta-se à Chris Pratt como uma das escalações de atores mais perfeitas da Marvel Studios, encaixando perfeitamente sua voz grave e atuação expressiva e intensa com a personalidade de Strange e com o filme em si.
         Agora ao me referir ao restante do elenco começo a entrar nos principais problemas de "Doutor Estranho". Mads Mikkelsen e Rachel McAdams são excelentes atores e dão seu máximo no filme. Porém, seus personagens são subdesenvolvidos. O Kaecilius de Mikkelsen até consegue se constituir como um destaque dentro da fraca galeria de vilões da Marvel Studios, mas a falta de tempo dedicado a seu personagem faz com que suas motivações sejam rasas, constituindo um antagonista que é funcional dentro da história, mas consideravelmente clichê em seus propósitos. Já a Christine de McAdams, apesar de conseguir fugir do estereótipo de interesse amoroso do herói, não recebe do roteiro a chance de ser muito mais do que isso. Acredito que a personagem será mais desenvolvida em uma já confirmada continuação, mas neste primeiro filme ela é apenas citada quando convém ao roteiro. Minha maior dúvida é quanto a Chiwetel Ejiofor. É claro para mim que a atuação dele é exagerada. No entanto, a forma extremamente intensa com que o ator fala todos os diálogos se encaixa minimamente com seu personagem Mordo, dando-lhe um aspecto de urgência e tornando críveis seus dilemas. De qualquer forma, dentro de todo o elenco principal, sua atuação é a mais fraca.
           Isso me leva diretamente aos problemas no roteiro de "Doutor Estranho". Apesar de muito efetivo em criar rapidamente um universo imersivo e complexo, a narrativa é frequentemente apressada demais ao desenvolver personagens e subtramas. Me questiono, no entanto, se isso é devido ao roteiro ou à montagem e edição das cenas, visto que para concluir de maneira satisfatória tudo o que foi inciado no primeiro ato considero que o filme precisaria ter no mínimo 15 minutos a mais. Como isso infringiria o que aparentemente se tornou uma regra em Hollywood, um blockbuster não pode ter mais de 2 horas de duração, "Doutor Estranho" perde um pouco de sua força e certamente teria a possibilidade de aprofundar o desenvolvimento de seus personagens e aparar as arestas que faltavam para criar um filme ainda melhor.
           Apesar de prejudicar o desenvolvimento da trama, a duração mais curta de "Doutor Estranho" é um dos principais fatores que contribuem para que este seja acima de tudo um filme divertido. É impressionante a dinamicidade que a montagem consegue imprimir ao filme. Cada cena cumpre seu papel de maneira efetiva e é logo substituída pela próxima, em uma sucessão que faz com que os 115 minutos de exibição passem muito rápido para quem assiste. Somando-se a isso um inesperado e muito bem-vindo senso de humor (90% das piadas acertam na mosca) e cenas de ação muito bem compostas e marcantes, "Doutor Estranho" é um dos melhores filmes produzidos pela Marvel Studios até o momento. Aguardo ansiosamente sua continuação.








Ótimo

Por Obi-Wan

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