segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Crítica: "Sully: O Herói do Rio Hudson"

Sully
Data de Estreia no Brasil: adiada por tempo indeterminado
Direção: Clint Eastwood
Distribuição: Warner Bros.

       Gostando ou não de seu trabalho, é impossível negar que Clint Eastwood é um dos diretores mais eficientes trabalhando em Hollywood no momento. O ator/diretor é conhecido na indústria por trabalhar de forma rápida e econômica, quase nunca entregando um filme acima do orçamento previsto ou atrasado em relação a data prevista de entrega para distribuição. Eastwood é o tipo de diretor minucioso que prepara tudo de forma precisa antes da gravação e consegue obter os resultados desejados com poucos takes (número de vezes que se filma a mesma cena). Trabalhando dessa forma Eastwood errou muito pouco em sua carreira de diretor ao longo das décadas, produzindo verdadeiras obras-primas, como “Imperdoáveis” (1992) e “Cartas de Iwo Jima” (2006). “Sully” não chega perto desses dois filmes em termos de qualidade, mas certamente não faz feio, mostrando muito da eficácia pela qual o diretor é conhecido.
Com um orçamento de aproximadamente 60 milhões de dólares (relativamente baixo se levarmos em conta a qualidade da produção) “Sully” conta a incrível história do homônimo piloto norte americano Chesley Sullenberger (lendo este nome não é difícil entender o porquê da existência do apelido) que protagonizou em 2009 o episódio que ficou conhecido como “milagre do rio Hudson”, quando pousou de maneira bem-sucedida uma aeronave carregando 155 passageiros sobre o rio que corta a cidade de Nova York. Contrariando o que seria esperado levando em conta o fenômeno midiático que foi o ocorrido, ou seja, construir como um suspense que se passa minutos antes ao acontecido, “Sully” toma a inteligente decisão de concentrar-se principalmente no que ocorreu após o incidente, uma vez que seria um tanto estúpido tentar criar um suspense em cima de uma história de apenas 7 anos atrás que ficou tão marcada na mente do público norte-americano (e até mundial).
Assim, “Sully” adentra os “bastidores” da narrativa, explorando principalmente a investigação conduzida por uma equipe de inquérito e os efeitos acarretados sobre a psique do piloto transformado em herói. Este é o cerne da narrativa do filme e também seu ponto mais positivo, uma vez que o roteiro acerta ao dar mais camadas e complexificar a personalidade de Sully. O foco aqui não é o acontecimento em si, mas o que se desenrola a partir dele, transformando “Sully” em um grande estudo de personagem que enfoca a figura de um homem comum que é repentinamente transformado em herói pela população, ao mesmo tempo que tem suas atitudes questionadas por uma perícia. Dito isto, considero que o principal destaque do filme e que o fará ser lembrado nas premiações no fim do ano é a performance de Tom Hanks. Quando está interessado no projeto (ao contrário de "Inferno", por exemplo), o ator é capaz de interpretar uma figura complexa de forma tão natural que faz tudo parecer muito fácil. Basta alguns poucos minutos para nos esquecermos de Tom Hanks e acompanharmos a figura de Sully, em um processo exaustivo e que lhe traz muitas angústias, tanto pelas consequências concretas de uma possível culpabilização quanto pelos efeitos disso em seu ego.
Se o filme acerta ao humanizar ao máximo a figura daquele que muitos consideram um herói, peca em alguns aspectos estruturais. Gosto muito da opção feita pela montagem do filme de contar a história de forma não-cronológica, utilizando-se de memórias de Sully e da própria investigação para reconstituir os acontecimentos de 15 de Janeiro. Porém, o efeito colateral disso é que muitas das cenas presentes no filme soam repetitivas, tornando-o mais cansativo do que um filme de apenas 96 minutos deveria ser. O principal problema de “Sully” é que seu roteiro é incapaz de decidir-se entre focar somente na reconstituição e investigação do caso ou explorar com maior profundidade emocional seus personagens, permanecendo em um meio-termo que prejudica a estrutura e o ritmo do filme. Neste sentido, “Sully” sofre do mesmo problema de “Horizonte Produndo”, ao negligenciar o arco dramático de seus personagens secundários, algo que o mais bem resolvido filme de Robert Zemekis, “O Voo”, faz com maestria. Há alguns outros problemas com a montagem de “Sully”, como por exemplo alguns flashbacks sobre o passado do personagem que parecem deslocados e conversas com sua esposa que também soam fora de lugar e mal desenvolvidas. Por outro lado, cenas sobre alguns dos passageiros são funcionais no sentido de humanizar as pessoas a bordo e fazer com que nos importemos com elas mesmo sabendo de antemão que todas sobreviveram ao ocorrido. 
Em contrapartida a tudo isso, um ponto muito forte do filme é a excelente direção de Clint Eastwood. O diretor conduz com característica maestria as cenas envolvendo a queda do avião, além de utilizar muito bem o que a tala maior e câmeras adaptadas para o formato de IMAX possibilitam (aliás, aos que puderem, vale a pena o preço um pouco maior dos cinemas que disponibiliza tal tecnologia). O que o diretor faz muito bem é aproveitar o espaço mais amplo da tela para enquadrar o maior número possível de elementos em um mesmo enquadramento, economizando nas transições e mantendo planos mais longos, algo que favorece a história e estrutura econômica do filme. 
De forma geral, “Sully” é um filme que acaba preso em meios-termos. A duração enxuta e o final abrupto impossibilitam o maior desenvolvimento de algumas questões e arcos dramáticos que o filme havia começado a abordar. O ideal seria uma duração com 15 minutos a mais ou então o enfoque exclusivo na investigação presente. Apesar destes problemas, a ótima direção de Eastwood e o carisma e excelente performance de Tom Hanks são capazes de segurar o filme, auxiliados por uma história que se desenrola de maneira inacreditável mesmo para aqueles que já conhecem seu final. Este é de fato o maior mérito de “Sully”: surpreender e instigar mesmo contando uma história que já virou notícia velha.






Ótimo

Por Obi-Wan

Um comentário:

  1. Muito boa crítica. Li o livro em que esta baseada faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje. Acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas. Espero que Sully, o herói do rio hudson seja umas das melhores adaptações para ver, a historia é interessante e parece levar um bom ritmo no trailer. Conheço o trabalho de Clint Eastwood já faz um tempo, na verdade é um dos meus diretores preferidos. Já estou esperando o seu próximo projeto, seguro será um êxito.

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