quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Crítica: "O Jogo da Imitação"

O Jogo da Imitação

(The Imitation Game)

Biografia/Drama - 2014 (Estados Unidos)
Data de Estreia no Brasil: 5/2/2015
Direção: Morten Tyldum
Distribuidora: Diamond Films

O Jogo da Imitação é o tipo de filme que agrada, mas não sai do lugar comum. É um drama com contexto histórico marcante e que funciona justamente a partir da relação do seu personagem principal com os elementos de época bem como as demais pessoas que povoam o filme. Assim, a película se divide entre momentos profundamente envolventes e outros (muitos outros) nos quais simplesmente pensamos: “Eu já vi isso...”
A história em si é extremamente interessante: Durante a segunda guerra mundial, o matemático Allan Turing (Benedict Cumberbatch) lidera uma equipe de intelectuais pelo serviço secreto britânico com o objetivo de desvendar um código alemão chamado "Enigma", acelerando assim o fim da guerra, enquanto vive seus próprio conflitos devido a sua sexualidade . Dessa forma, o roteiro é contado com três focos de tempo diferentes que vão se entrelaçando ao longo da história, se concentrando sempre nos conflitos do personagem principal durante o período da Segunda Guerra.

Com uma premissa tão interessante é realmente uma pena que o roteiro se torne formulaico, se concentrando numa velha estrutura, porém, montada de forma diferente. Por exemplo, assim que somos apresentados aos companheiros de equipe de Turing, e vemos a sua arrogância com eles, sabemos que é uma questão de tempo até que estes desenvolvam uma certa amizade e companheirismo culminando numa cena na qual os personagens colocam suas vidas/empregos em jogo para proteger o protagonista. O Jogo da Imitação caminha assim por caminhos já conhecidos pelo publico a partir de outros filmes do gênero (como numa cena, praticamente retirada do filme Uma Mente Brilhante, na qual o protagonista chega a uma conclusão salvadora a partir de uma conversa de bar) alem de se render a personagens coadjuvantes clichês que estão ali como meros antagonistas episódicos na maioria das vezes, garantindo bons momentos graças a suas relações com Alan Turing, mas que no final das contas simplesmente somem do filme.
Devo dizer assim, que a direção de Morten Tyldum é irregular. Tyldum se dedica a contar a história de uma forma muito simplista e com poucos momentos interessantes (como em um que o diretor cria uma rima visual entre um torpedo atingindo um submarino e um cigarro sendo apagado), adotando ainda um linguagem de telefilme para a projeção fazendo com que certos elementos para emocionar soem forçados. Mas, verdade seja dita, Tyldum se sai bem ao criar um clima de urgência para o desenvolvimento da máquina de Turing para que possamos sentir a necessidade do desenvolvimento do projeto.
A questão é que, por mais que todos estes elementos apresentem defeitos claros, em conjunto eles funcionam bem na maior parte do tempo. E se funcionam é graças a seu “casal” principal, Alan Turing e Joan Clarke. Benedict Cumberbatch (numa mistura de Sheldon Cooper com John Nash) faz um trabalho excepcional compondo Turing como um homem inseguro, porém arrogante. Algo que com outros atores poderia virar uma mera caricatura, com Cumberbatch se torna um trabalho contido, sensível e intenso, sendo incrível presenciar um sorriso de orgulho seu ao pensar que os seus trabalhos estavam sendo ensinados na universidade. Não menos complexa é a personagem de Keira Knightley, Joan Clarke, já que a atriz foge do obvio ao não apostar simplesmente num tom materno de proteção à Alan, mas também mostrando admiração e curiosidade, vendo nele um ponto de sua possível liberdade. Este casal não funcional é o que carrega o filme já que vemos na relação dos dois, em suas obstinações e seus segredos, um reflexo das demais questões do filme.
O fato de o filme ter sido indicado ao Oscar de 2015 nas categorias de diretor, roteiro e melhor filme, me parece inexplicável tendo em vista que este desbancou nestas categorias dois dos melhores filmes do ano (Garota Exemplar e O Abutre). Não me entenda mal, O Jogo da Imitação é um bom filme e que de uma forma geral funciona, mas é frustrante perceber que uma figura excepcional como Alan Turing esteja representado em um filme tão comum como este.








Bom

Por: Han Solo

2 comentários:

  1. Arruda! Também achei ele a cara do Sheldon!
    Então, acabei de ver e tive uma opinião um pouco divergente - por motivos óbvios, hahaha. Fora a história que em si já traz todo o grande problema de ser homossexual numa época em que isso é considerado crime - juntamente com a barbárie da pena aplicada - o que mais me chamou a intenção foi o fato de tratar-se de um filme com o personagem principal gay, mostrando esse conflito em vários momentos, e que mesmo assim não se tornou um filme gay, como se houvesse um gênero à parte. Acho que essa integração, essa humanização que é necessária ainda hoje em dia, é o que mais me impressionou - e o ator é bonito também! ahaha

    Bruno

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    1. Apesar de não termos amado o filme, certamente o respeitamos muito pela mensagem que transmite. A importância dessa homenagem ao legado de um dos maiores nomes da história da tecnologia é incomensurável. É importante que o filme mostre uma época em que a homossexualidade era considerada um crime. Lembrando que, foi somente em 2013 que Alan Turing recebeu um "Perdão Real" da Coroa Britânica. É um absurdo que apenas depois de todos esses anos Turing tenha sido perdoado pelo "crime" de ser quem era

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