quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Crítica: "Hardcore: Missão Extrema"

Hardcore: Missão Extrema
(Hardcore Henry)
Ação
Data de Estreia no Brasil: 04/08/2016*
Direção: Ilya Naishuller
Distribuição: Diamond Filmes



A originalidade de "Hardcore: Missão Extrema" (a partir de agora somente "Hardcore") e seu alto grau de entretenimento estão diretamente ligados a seus defeitos. Produzido como uma grande sequencia de ação retirada totalmente de missões de jogos de vídeo games, o longa abraça sua origem sem qualquer receio para criar sequencias de ação visualmente impressionantes que nos guiam por uma história de personagens sem qualquer profundidade, mas com uma funcionalidade indiscutível mostrando que todos os defeitos e os acertos do filme são minuciosamente pensados e calculados pelos produtores em seus curtos, porém extremamente divertidos, 96 minutos de projeção.

Adaptando de um curta divertido e famoso que circulou pela internet, Ilya Naishuler assina tanto o roteiro quanto a direção deste longa que conta a história de Henry, um homem que sobreviveu a um acidente e que acorda em um laboratório após ter sido trazido de volta a vida graças a um uso de tecnologia que praticamente o transformou num ciborgue com habilidades sobre-humana. Em sua busca por respostas quanto a seu passado e o misterioso vilão Akan (que sem duvidada alguma é um vilão no sentido mais clássico do cinema), é claro que a história é meramente uma desculpa para que Naishuller possa se divertir com uma câmera subjetiva ao melhor estilo POV, resultando num trabalho de coreografia, mise-en-scène, edição e montagem não só completamente virtuosos como também que dão sinais promissores para a carreira deste jovem diretor russo.
Assim, Henry é um ser completamente sem identidade ou complexificação, um sacrifício feito pelo roteirista do conteúdo pela forma, sendo auxiliado pelo fato de que uma câmera subjetiva obriga o espectador a estar do lado do personagem, e assim com o passar do tempo, por mais que nunca perca seu aspecto lúdico, a plateia preenche o personagem com suas  próprias fobias e emoções (causadas pela adrenalina dos movimentos radicais de Henry) sentindo-se no meio de todas aquelas ações. Com isso "Hardcore" é um "filme de cinema" no melhor sentido destes termos, já que por mais que haja a imersão do espectador em cada nova missão de Henry nunca se perde o sentimento de passatempo lúdico e inofensivo que o próprio filme deseja ser.
Com isso, o leitor não deve pensar que a técnica empregada pelo longa é utilizada de forma banal e sem qualquer inventividade, pois isso seria um terrível engano. Na verdade, a própria escolha de lentes grande angulares (as famosas "olho de peixe") se mostra uma decisão acertada que deforma as bordas da tela nos colocando uma perspectiva de estarmos dentro dos olhos de Henry, observando o mundo somente até onde o máximo de sua visão periférica permite.  Ainda assim, "Hardcore" não se prende a uma montagem em tempo real - o que só delongaria cenas que mostram o protagonista correndo por corredores, por exemplo - empregando pequenos cortes que avançam a narrativa soando muitas vezes como jump-cuts. Tal abordagem dá ainda dinamismo para as sequencias de ação que envolvem lutas com facas, tiroteios complexos em edifícios, perseguições longas que envolvem coreografias de "le parkour" montadas com agilidade e energia sem que deixemos de entender o que está acontecendo na cena.
Contando ainda com momentos de alívio cômico bem empregados sem que soem como meras gracinhas do roteiro, este ainda é bem estruturado em sua história extremamente simplória e construída através de pequenas missões tão características de vídeo games que possuem sempre um personagem que literalmente narra o que deve ser feito para passar de fase... digo, resolver os problemas que são apresentados. Em sua leveza descompromissada o script falha justamente por, ao final de cada missão, sempre apresentar uma resolução repetitiva que dá aos espectadores (de forma manipulativa) somente partes específicas e medidas da história de Henry para que a narrativa avance. Assim, todos os personagens do filme são interpretados como meras caricaturas por seus interpretes e como meras ferramentos de roteiro pelo filme, porém soando sempre mais divertido e completamente dentro da proposta do longa, sendo um destaque mesmo a atuação carismática de Shalrto Copley com seus "múltiplos Jimmys".
Tirando todo o proveito das situações que cria, "Hardcore" mostra, assim como o último "Mad Max" fez, que para se criar um filme de ação interessante não é necessário uma grande trama (ainda que o filme de George Mueller seja uma obra muito superior). Este longa russo sabe explorar bem suas qualidades mascarando seus defeitos, nos brindando no meio do caminho com o mais puro cinema pipoca - ainda que, aqui e ali, os efeitos digitais falhem em sua construção por soarem artificiais demais. Um grande acerto despretensioso e divertido num ano tão frustrante quanto 2016 vinha se mostrando.


*O longa teve seu lançamento cancelado nos cinemas brasileiros, estando atualmente disponível pela Neflix.








Ótimo

Por Han Solo

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