sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Crítica: "Sete Homens e um Destino"

Sete Homens e um Destino
(The Magnificent Seven)
Data de Estreia no Brasil: 22/09/2016
Direção: Antoine Fuqua
Distribuição: Columbia Pictures


         "Os Sete Samurais" não só é comumente considerado um dos maiores filmes de todos os tempos, mas é também um dos principais responsáveis pela criação do gênero "ação" no cinema. O amado filme do diretor Akira Kurosawa foi lançado em 1954 e 6 anos depois recebeu um remake, o também aclamado "Sete Homens e um Destino", que transportava a história do Japão do século XVI para o velho oeste. Portanto, esta nova parceria entre o diretor Antoine Fuqua e Denzel Washington é o segundo filme de 2016 (o outro foi "Ben-Hur") a fazer um remake de um remake. Nos dois casos, o resultado final não é lá muito diferente.

            A história base criada por Kurosawa é a de um vilarejo isolado no Japão de fins do século XVI que é atormentado por um grupo de ladrões que lhes roubam as plantações e destroem suas casas. Habitantes deste vilarejo vão então até a cidade mais próxima procurar por samurais que pudessem comandar uma resistência contra tais bandidos. Guardadas as devidas particularidades de dois períodos históricos completamente diferentes, no cinema os filmes de samurai de Kurosawa não são estruturalmente muito diferentes dos western, principalmente os dos anos 1960, que exploram a figura do pistoleiro solitário. Prova disso é a cópia quase quadro a quadro do magistral "Yojimbo - O Guarda Costas" feita por Sergio Leone no também excelente "Por um Punhado de Dólares" (1964). O que quero dizer com esta retomada histórica é que Hollywood nunca teve dificuldades em adaptar a estrutura básica dos clássicos filmes de Akira Kurosawa. E novamente, isto é algo que "Sete Homens e um Destino" faz muito bem.

           Passado no oeste americano de fins do século XIX, a trama do filme aborda questões muito bem localizadas no período abordado. Nesta nova adaptação, o vilão que aterroriza o vilarejo de Rose Creek é Bartholomew Bogue, um empreendedor de grandes mineradoras que representa aqui o capitalismo industrial que passa por cima de tudo posto a sua frente para lucrar o máximo possível. Apesar de alguns diálogos que soam um tanto anacrônicos, gosto muito desta mudança em relação a narrativa original, conseguindo atualizá-la sem parecer demasiadamente deslocado do período escolhido para contar a história. Uma outra interessantíssima atualização é a presença de um elenco mais etnicamente diverso em um gênero conhecido por suas abordagens extremamente racistas. Mesmo hoje em dia ainda é algo inusitado a existência de um blockbuster em que apenas três dos 7 personagens principais são brancos. Fazer isto em um western é algo extremamente significativo.
           É impressionante também a qualidade do elenco conseguido para este filme. Denzel Washington, Ethan Hawke e Chris Pratt são nomes enormes em Hollywood no momento e estão todos muito bem no filme. O problema é que, apesar de carismáticos, os personagens principais do filme não são nada criativos ou interessantes. Estes três tem algum tipo de arco dramático palpável, mas são muito mal desenvolvidos, fazendo com que estas tentativas de lhes dar um backstory pareçam desnecessárias e redundantes. Outros dos 3 personagens parecem estar lá apenas para compor o elenco etnicamente diverso, com um mexicano, um chinês e um nativo-americano. Ainda é pouco, mas definitivamente melhor do que um elenco composto inteiramente por homens brancos. Já o personagem de Vincent D'Onofrio é um grande desperdício do bom ator em um personagem completamente sem sentido que é limitado a uma frustrada tentativa de constituir um alívio cômico.
             Ainda sobre os personagens, é preciso destacar  Emma Cullen (Harley Bennett), a principal responsável pelo recrutamento dos pistoleiros. Se por um lado é interessante que esta figura feminina seja proeminente nesta história, algo praticamente inexistente em se tratando de westerns, o filme o faz de maneira completamente irregular. Apesar de sua importância para a trama e provada capacidade de lutar, Cullen é jogada para lá e para cá de acordo com a vontade dos protagonistas, nunca de fato integrando tal grupo. Novamente uma boa ideia que poderia ter sido muito melhor executada. De maneira semelhante, o vilão deste filme é uma boa ideia no papel, mas na prática um verdadeiro desastre. Peter Sarsgaard não é um ator ruim, mas seu Bartholomew Bogue é um personagem extremamente caricato, com uma atuação afetada e cheia de maneirismos que tenta evocar Daniel Day-Lewis em "Sangue Negro" (2007) e falha de maneira terrível, consistindo um vilão completamente irritante e genérico.
                Este é na verdade o principal problema da nova encarnação de "Sete Homens e um Destino". Eu honestamente não tenho nada contra remakes, desde que eles realmente acrescentem algo à história e a atualizem, como fizeram muito bem "Creed" e "O Despertar da Força" no ano passado. O western como um todo é um gênero bastante esquecido pelo cinema, precisando desesperadamente de uma revitalização, algo que consegue com "Bone Tomahawk" (2015), mas não com "Sete Homens e um Destino". Como já dito anteriormente, o projeto até ensaia algumas boas ideias e promove alguns avanços para o gênero, mas não faz nada de realmente original, resultando em um filme muito pouco marcante que aposta em velhos estereótipos, como o pistoleiro solitário com um passado traumático (Washington) e o carismático beberrão (Pratt).
          Apesar de todos estes defeitos, "Sete Homens e um Destino" cumpre a proposta básica de um filme de ação e consegue ser um filme bastante entretivo. Independente de suas questionáveis escolhas no sentido narrativo (tanto neste filme quanto em qualquer outro), Antoine Fuqua sempre foi um eficiente diretor de ação. Aqui ele consegue um efeito muito imersivo já no começo, mostrando Rose Creek de vários ângulos em rápida sucessão, algo que consegue conferir mais "vida" e uma dinâmica interessante para a cidade. Além disso, Fuqua é muito capaz de empolgar com boas cenas de ação, utilizando muito bem as características dos personagens para criar empolgantes sequências, principalmente no grande clímax. 
       No fim das contas, apesar de não passar nem perto de ser bom o  suficiente para constituir um filme realmente marcante ou original que possa revitalizar o gênero western, "Sete Homens e um Destino" é um filme de ação muito competente, um bom entretenimento para suas duas horas de exibição. 







Bom

Por Obi-Wan
               

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